Mutagenicidade, Genotoxicidade e Resistência Bacteriana associadas à Contaminação Aquática por Metais Pesados
Poluição Ambiental; Conceito de One Health; Rompimento da Barragem; Bactérias Gram-Negativas; Poluentes da Água.
O rompimento da Barragem I, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), ocorrido em 2019, liberou milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na bacia do rio Paraopeba, gerando um grave impacto ambiental e potencial risco à saúde humana. Este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos ecotoxicológicos da exposição aos íons dos metais pesados mercúrio (Hg2+), chumbo (Pb2+), alumínio (Al3+) e manganês (Mn2+), presentes na água do rio Paraopeba, no que tange à mutagenicidade, à genotoxicidade e à indução de resistência antimicrobiana. Utilizou-se do teste de micronúcleo com bloqueio de citocinese (CBMN-cyt) em células Caco-2 para verificar o potencial mutagênico da solução de metais contendo, respectivamente, os íons supracitados nas concentrações de 0,20 µg/L, 0,013 mg/L, 0,35 mg/L e 1,117 mg/L. Nessas mesmas concentrações, será realizado o Ensaio Cometa, para avaliar o potencial genotóxico. Para a avaliação da resistência bacteriana, amostras de diferentes pontos do rio Paraopeba foram inoculadas em meio de cultura suplementado com os antibióticos ciprofloxacino (0,5 μg/mL), colistina (2,0 μg/mL), gentamicina (2,0 μg/mL) e meropenem (8,0 μg/mL), de modo a isolar espécimes gramnegativos resistentes a estes. O teste de mutagenicidade in vitro demonstrou ausência de diferença estatisticamente significativa entre os tratamentos com soluções metálicas testadas e o controle negativo. Ainda, foram isoladas Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli e Proteus mirabilis resistentes a gentamicina, ciprofloxacino, colistina e meropenem. Estes achados sugerem que, embora os efeitos mutagênicos não tenham sido observados nas condições testadas, a presença contínua de metais pesados pode atuar como fator de pressão seletiva contribuindo para a disseminação de genes de resistência antimicrobiana no ambiente aquático. Os resultados reforçam a importância da vigilância ambiental integrada, especialmente sob a perspectiva da abordagem One Health.