Desprescrição de Benzodiazepínicos: itinerário do uso.
Protocolos clínicos. Desprescrições. Geriatria. Benzodiazepinas. Medicalização. Pesquisa Qualitativa
À medida que os indivíduos envelhecem, eles passam por uma série de adaptações funcionais que podem resultar no aumento do uso de medicamentos, incluindo os potencialmente inapropriados, como é o caso dos benzodiazepínicos. Com isso, é evidente a necessidade de se promover a desprescrição dos benzodiazepinicos. Todavia, embora a redução da dose ou cessação do uso destes medicamentos possa trazer benefícios para os pacientes quando não há indicação clínica, a literatura descreve a existência de diversas barreiras que podem dificultar este processo, como é o caso da expectativa depositada sobre o tratamento. Sabendo disso, buscou-se explorar a existência de um fenômeno relacionado a expectativa dos pacientes sobre o uso de benzodiazepínicos. Trata-se de um estudo qualitativo conduzido no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) do SUS no município de Itapecerica-MG. Durante a coleta de dados, foram realizadas entrevistas orientadas por um roteiro semi-estruturado. As informações coletadas foram analisadas por meio da análise temática de conteúdo e interpretadas a partir do paradigma pós-estruturalista. A partir da análise das entrevistas, foram identificadas duas principais categorias, sendo elas: eventos relacionados ao início do uso dos medicamentos e dificuldades em parar de usar. Em ‘’eventos relacionados ao início do uso dos medicamentos’’, foram encontrados os núcleos de sentido ‘’insônia’’, ‘’Eventos de vida’’, ‘’adoecimento laboral’’ e ‘’dependência química’’. Já em relação ao tema ‘’dificuldades em parar de usar’’, foi encontrado o núcleo de sentido ‘’expectativa do paciente’’. Foi possível observar a existência de um fenômeno relacionado a expectativa dos pacientes sobre o tratamento, que posteriormente veio a prejudicar a adesão dos participantes à desprescrição, visto que muitos deles acreditavam que não conseguiriam realizar atividades cotidianas ou até mesmo dormir sem o medicamento. Além disso, foi possível observar que os relatos apresentados carregam uma grande herança mecanicista de um modelo biomédico/medicalizante, que pressupõe a ideia de que o “mal’’ deve ser identificado e combatido, fazendo com que a percepção da necessidade de uso de medicamentos se modifique.