Desenvolvimento do extrato seco padronizado de Celtis iguanaea (Jacq.) Planch. (Cannabaceae)
Análise Multivariada; Controle de qualidade; Extratos Vegetais; Secagem por Atomização; Otimização de Processos
Buscou-se desenvolver o extrato seco padronizado das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Planch.
A droga vegetal (DVCI) obtida a partir da secagem e moagem das folhas foi caracterizada
farmacognosticamente. Um trabalho de otimização da extração assistida por ultrassom (EAU)
avaliou a influência das variáveis de processo: razão droga vegetal/solvente (D/S), graduação
alcoólica (GA) e tempo de extração (t) nos atributos de qualidade do processo e do produto.
Após isso a DVCI foi submetida à extração por percolação e rotaevaporação para a obtenção
do extrato fluido de C. iguanaea (EFCI), o qual foi padronizado em função de suas propriedades
físico-químicas. Visando ao desenvolvimento racional do extrato seco de C. iguanaea (ESCI),
realizou-se uma otimização do processo de spray-drying, no qual foram avaliados os efeitos
das variáveis de processo: temperatura do ar de secagem (T), vazão de alimentação do extrato
(VE) e teor de leucina (L) em relação ao teor de sólidos, usada como adjuvante se secagem. A
DVCI foi caracterizada com um teor de água de 11,98 % índice de intumescência em água e
em etanol 70% de 4,02 e 1,28, respectivamente, uma distribuição granulométrica sigmoidal
com diâmetro médio de 532 μm, cinzas totais de 16,2%, cinzas insolúveis de 10,5 %, teor de
fenólicos (TFen) e flavonoides (TFla) totais de 4,15 e 31,34 mg/g, respectivamente,
concentração média de inibição de DPPH (CI50) de 26,34 μg/mL e índice eletroquímico (IE) de
8,09 μA/V. A condição mais favorável de EAU envolve D/S de 3 %, GA de 90 % e 45 min (exp.
12). O EFCI apresentou rendimento de 44,89 %, densidade de 1,05 g/mL, pH 6,91, resíduo seco
de 9,41 %; TFen de 32,79 mg/g; TFla de 29,54 mg/g; teor de fitosteróis totais (TFit) de 50,86
mg/g; CI50 de 1.429,65 μg/mL e IE de 16,56 μA/V. A adição da leucina foi importante para a
secagem, de modo que o processo é otimizado em T de médias a altas, VE baixas e L altos. O
melhor conjunto de condições a ser empregado na obtenção de extratos secos de C. iguanaea é
em 130°C, VE de 0,3 L/h e L de 45%. Os atributos no ponto ótimo indicam uma secagem
rápida, mas que requer grandes quantidades de energia. O ESCI otimizado (exp. 11) teve
rendimento de 51,90%, perda por dessecação de 9,85 %, TFen, TFla e TFit de 21,78; 49,69 e
518,81 mg/g, respectivamente; CI50 de 301,62 μg/mL; IE de 6,13 μA/V e apresentou
micropartículas corrugadas, tanto ocas quanto densas e aglomerados de partículas com uma
variação de diâmetro entre 0,7 a 13,1 μm e uma média de 3,4 μm. A identificação por LC-PDA,
LC-UV e ESI(-)-MS dos compostos majoritários do ESCI obtido em condições otimizadas
indica a presença de um ácido hidroxicinâmico e duas flavonas como os compostos
majoritários. Esse trabalho possibilitou, por meio da abordagem de Quality by design, o
desenvolvimento do extrato seco padronizado das folhas de Celtis iguanaea com rendimento satisfatório, indícios de estabilidade físico-química e manutenção de suas propriedades antioxidantes. O produto otimizado pode ser usado no desenvolvimento de fitoterápicos para o tratamento de diversas enfermidades relacionadas ao stress oxidativo. Para tanto, estudos complementares de avaliação da estabilidade, caracterização farmacocinética, de interações medicamentosas e de eficácia em humanos devem ser realizados para promoção do uso racional de C. iguanaea na medicina complementar brasileira.