Forçar a elipse: um estudo sobre utopia na contemporaneidade periférica
utopia; loucura; psicanálise; marxismo; materialismo dialético.
No presente trabalho partimos da articulação, metodologicamente orientada, entre
psicanálise, política e filosofia, com o objetivo de demonstrar conceitualmente a força da
relação entre loucura e utopia, principalmente no que ambas as categorias implicam de
reordenação da realidade. Preocupamo-nos com a articulação conceitual que estrutura a
racionalidade utópica, e não com as variadas manifestações da utopia na história.
Assumindo a premissa de que a psicanálise possui uma teoria materialista dialética, o
trabalho foi conduzido pela hipótese de que a obra lacaniana se constitui como um
mediador privilegiado para uma perspectiva ao mesmo tempo desencantada e crítica a toda
forma de niilismo, ainda que para tanto tenha sido necessário um trabalho de generalização
regrada de seus pressupostos. A tese se subdividiu em quatro partes: em um primeiro
momento, procuramos tanto analisar o que tem sido debatido no Brasil sobre a relação
entre psicanálise e utopia, quanto demonstrar que o conceito de utopia, apesar de
extrínseco ao escopo psicanalítico, pode ter implicações intrínsecas a ele; posteriormente,
demonstramos como o conceito de utopia abre um campo profícuo de diálogo da
psicanálise com o marxismo, sobretudo via tensionamento entre ontologia política e
estratégia socialista; em seguida, propomos uma análise historicamente situada do Brasil,
de sua estrutura econômica e forma-política, enquanto expressão por excelência do que
chamamos de contemporaneidade periférica, com a intenção de contrapor a situação
concreta do país com o que vislumbramos por meio da ideia de utopia; finalmente, na
última parte, nos debruçamos sobre o tipo de repertório subjetivo que consideramos ser
crucial à política emancipatória, advogando a favor da pertinência da imaginação política,
mesmo que aparentemente disparatada, no que tange à instalação de um processo de
transformação sistêmica da estrutura social.