Subsídios para uma interpretação retórica da Antífona e Lamentações do Ofício De Quinta-Feira Santa de Lobo de Mesquita
Lobo de Mesquita; Antífona e Lamentações do Ofício De Quinta-Feira Santa; Retórica e Música; Música Colonial Brasileira; Interpretação Musical.
O presente trabalho investiga a obra Antífona e Lamentações do Ofício De Quinta-Feira Santa de Lobo de Mesquita. Buscando retirar subsídios retóricos para a sua interpretação musical, nosso olhar percorre a dinâmica existente entre o texto verbal e o texto musical , explorando o processo de ressignificação musical do texto litúrgico e revelando a dialética existente entre ambos os polos, de forma a expor os pontos significativos do discurso musical empregue e demonstrar a carga afetiva aproveitada em sua interpretação. Entendemos que a manipulação adotada por Lobo de Mesquita no tratamento sonoro do texto litúrgico veio a gerar um novo discurso musical. Por isso, optamos pela retórica no procedimento analítico, pois esta prescreve um caminho adequado para revelar a sistematização dos afetos racionalmente organizados no discurso. Assim, nos apoiamos em autores que tenham publicado livros, teses, dissertações, artigos e afins, observando o aproveitamento dos princípios de retórica na construção discursiva em Música. Dentre eles, Eliel Almeida Soares, com a observação de figuras retóricas na Música Colonial Brasileira; Bruce Haynes, mostrando como os princípios da retórica musical e da oratória estiveram historicamente presentes na própria performance musical; e principalmente, Ana Margarida Madeira Minhós da Paixão, que em sua tese (2008) aborda obras teóricas produzidas em Portugal entre os séculos XVII e XIX, verificando os princípios e técnicas de construção textual comuns à literatura e à música e a proximidade entre as duas artes em procedimentos, normas e etapas da criação retórica. Deste último estudo, ainda é válido destacar que a autora discorre sobre os modos de enunciação e recepção ao nível do intérprete/performer e dos efeitos do discurso. Pretendemos, portanto, explorar retoricamente o campo afetivo invocado na obra de Lobo de Mesquita retirando dessa experiência fatos que aumentam a amplitude de sua interpretação musical. A pesquisa vai no sentido de explorar a obra sem necessariamente percorrer sua realização sonora a nível de performance, mas apontando a expressividade musical a partir de seu material escrito.